Resumo

Percecionar a litoralização de Portugal continental, isto é, o ritmo de ocupação populacional permanente na zona costeira portuguesa relativamente ao interior, ao longo de onze séculos, não é um desafio fácil, mas afigura-se necessário.

- Não é fácil porque envolve o manejo de fontes diversas no seu propósito e origem, assim como o recurso a suporte científico vasto e disperso e, ainda, a uma metodologia interdisciplinar.

- Afigura-se necessário porque sendo Portugal um país com uma vasta orla marítima, nunca é demais perceber como as suas gentes se relacionaram com o mar.

No estado da arte acerca do tema, afirma-se que os litorais abrigados (estuarinos e lagunares) foram desde muito cedo ocupados pelo ser humano, ao contrário dos litorais expostos diretamente à agitação marítima oceânica que só tardiamente foram objeto de ocupação. Em teoria, esta asserção tem lógica, quanto mais não seja porque os litorais expostos são tendencialmente mais perigosos e com condições naturais menos vantajosas. Porém, quando queremos concretizar e pontualizar as afirmações atrás expostas não encontramos estudos consolidados para o efeito. 

Sobretudo se pretendemos uma análise de longa duração, como julgamos ser a mais pertinente para alcançar os objetivos deste estudo.

Sendo este um projeto exploratório, na completa aceção do termo, optámos por evidenciar quatro cortes sincrónicos para uma análise que se quer de longa diacronia. São eles:

- Os forais velhos e sua distribuição geográfica, em correlação com os indicadores de grandeza do contingente da população dos municípios arrolados. Para tanto lançar-se-á mão dos trabalhos já dados à estampa sobre as inquirições portuguesas de 1220 e 1258 e arrolamento dos besteiros do conto (séculos XIII a XV).

- Os forais novos ou manuelinos em concatenação com os dados populacionais apurados pelos trabalhos que versaram a análise do numeramento de 1527-31, menos esparsos e mais quantificáveis que os medievos.

- O primeiro censo da população portuguesa, efetuado em 1864, que inaugurou os recenseamentos modernos pautados pelas orientações internacionais estabelecidas em Bruxelas (1853). Aqui a recolha dos dados populacionais inerentes a cada concelho é direta.

- O último censo de 2021, que embora ainda esteja a ser trabalhado, já nos possibilita retirar os dados respeitantes à população absoluta dos 278 municípios de Portugal continental, permitindo uma visão de conjunto do índice de litoralização atual.